Olhei o espelho a medo, com medo do que poderia encontrar. São anos passados num calendário vazio, num relógio sem ponteiros que o tempo desconhece.
O reflexo, são doces que a vida trouxe, amarguras que não se falam, rugas dilaceradas pelo sol, pelo frio, pela noite e loucas festas de luxuria.
Tenho medo de voltar a ver o que vivi. Tenho medo de cair na solidão que ganhei e não perdi. Tenho medo de me tornar naquela jarra que ninguém quer e ter de partir.
Olhei o espelho, aquele pedaço de reflexo que me sobra de uma vida perdida, dorida, desgastada e sofrida.
Olhei o espelho de soslaio, de quem não quer ver a verdade, o presente de um passado num futuro nublado, fusco, ensombrado.
Um dia fui rainha de ouro, joias e jasmim. Um dia mandei, escravos ordenei, chicoteei e verdes prados em meu corcel percorri. Hoje, não sou ninguém. vivo do favor e da misericórdia de quem um dia destratei e ofendi.
Olhei o espelho a medo, com medo do que poderia encontrar. E o que vi fingi não ver, fuji. Tive medo de me enfrentar.
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