quarta-feira, outubro 05, 2016

Uma história cada vez mais próxima da realidade



Nos serviços da função pública, pelo menos naqueles cujas marcações de atendimento são uma constante, cada vez mais as listas de espera para o atendimento acontecer, seja ele de que natureza for, são maiores; cirurgias com listas de espera e prazos elevadíssimos, exames práticos de condução com tempos de espera superiores a 90 dias, julgamentos sem data prevista para acontecerem, etc...


No entanto, o - Devaneios urbanos... - escutou uma conversa, não se sabe bem de quem ou de que director de que serviço - isto tudo para que não sejam adjudicadas quaisquer responsabilidades - que essas listas de espera e tempos improváveis estão na iminência de acabar.

Poderemos pensar que em Portugal as leis são para serrem cumpridas; na verdade são, mas não por todos, claro! Há aqueles que, ao abrigo de uma qualquer imunidade ou cargo de chefia com conhecimentos hierárquicos, a podem saltar, ignorar, apagar da realidade, ignorar ou mesmo desprezar.

Diálogo:

Funcionário Administrativo: Senhor Director, dá licença?
Director: Sim, claro! Entre D. Josefina. Que deseja?
F.A.: Estamos com graves problemas na lista de cirurgias.
D.:   Então mas porquê, se os nosso serviços funcionam tão bem!
S.A.: Mas, senhor director, não temos pessoal suficiente para dar vazão às solicitações.
D.:  Não é possível. O hospital tem tanta gente.
S.A.: Sim, mas cirurgiões, não!
D.:  E qual é o problema? Chamam-se outros funcionários.
S.A.:  Outros funcionários? Como assim?
D.: Não me diga que não há ninguém nos serviços que tenha algum conhecimento sobre cirurgias, que possa ir adiantando serviço?
S.A.: Não estou a entender.
D.:  Olhe, se não tem cirurgiões para adiantar serviço, convoque a D. Evanilda para ajudar.
S.A.: A D. Evanilda? A senhora das limpezas?
D.: Essa mesma.
S.A.: Mas ela é das limpezas. Não tem qualquer formação em medicina.
D.: Tem pois. Afinal não é ela que carrega os sacos cheios de seringas e gases e essas coisas todas?
S.A.: Sim...
D.: Está a ver? Afinal ela tem conhecimentos.
S.A.: Mas...mas...mas...
D.: Mas, nada! Chame a D. Evanilda e ponha-a a acompanhar a próxima cirurgia com um bloco e uma caneta na mão. Se ela tiver alguma dúvida, durante a cirurgia que faça as perguntas ao cirurgião que ele explica-lhe.
S.A.: Mas... mas...mas...
D.: Estou em crer que...diga-mos...em cerca de um mês estará preparada para começar a trabalhar.
S.A.: Acha que isso é seguro? Isso não é seguro.
D.: Não se preocupe, é só para despachar serviço.
S.A.: Mas a D. Evanilda não tem qualquer tipo de conhecimento sobre a matéria.
D.: Eu já vi a D. Evanilda a desinfectar uma ferida no seu próprio braço.
S.A.: E se chamássemos externos, qualificados, com formação...
D.: Nã! Isso é muito caro. Esta é a solução perfeita.
S.A: Mas a senhora não tem qualquer documento que a qualifique.
D.: Passe-me aí uma folha em branco.
S.A.: Está aqui!
D.: Eu, Josefino Augusto Murteira, declaro que a D. Evanilda tem, desde hoje, competências para executar a função de cirurgia cardíaca e outras que se justifiquem. - Está assinado. Coloque-lhe um selo branco e pronto, está a ver, afinal a D. Evanilda afinal tem um documento que lhe atribuí competências.
S.A: Mas isso não é legal!
D.: Claro que é.
S.A.: Não, não é!
D.: O director sou eu, eu é que tenho os conhecimentos, eu é que sei.

E assim, a D.Evanilda, até então empregada de limpeza...ou melhor, desculpem, técnica de higiene em profundidade, passou a ser técnica de cirurgia aplicada.

E assim vai este país.

Mais vale passarmos a investir nos conhecimentos localizados e tentarmos meter os nossos filhos em determinados sectores públicos, do que andar a investir numa formação académica, pois isso não lhe vai valer de nada num futuro laboral.

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