Nos serviços da função pública, pelo menos naqueles cujas marcações de atendimento são uma constante, cada vez mais as listas de espera para o atendimento acontecer, seja ele de que natureza for, são maiores; cirurgias com listas de espera e prazos elevadíssimos, exames práticos de condução com tempos de espera superiores a 90 dias, julgamentos sem data prevista para acontecerem, etc...
No entanto, o - Devaneios urbanos... - escutou uma conversa, não se sabe bem de quem ou de que director de que serviço - isto tudo para que não sejam adjudicadas quaisquer responsabilidades - que essas listas de espera e tempos improváveis estão na iminência de acabar.
Poderemos pensar que em Portugal as leis são para serrem cumpridas; na verdade são, mas não por todos, claro! Há aqueles que, ao abrigo de uma qualquer imunidade ou cargo de chefia com conhecimentos hierárquicos, a podem saltar, ignorar, apagar da realidade, ignorar ou mesmo desprezar.
Diálogo:
Funcionário Administrativo: Senhor Director, dá licença?Director: Sim, claro! Entre D. Josefina. Que deseja?
F.A.: Estamos com graves problemas na lista de cirurgias.
D.: Então mas porquê, se os nosso serviços funcionam tão bem!
S.A.: Mas, senhor director, não temos pessoal suficiente para dar vazão às solicitações.
D.: Não é possível. O hospital tem tanta gente.
S.A.: Sim, mas cirurgiões, não!
D.: E qual é o problema? Chamam-se outros funcionários.
S.A.: Outros funcionários? Como assim?
D.: Não me diga que não há ninguém nos serviços que tenha algum conhecimento sobre cirurgias, que possa ir adiantando serviço?
S.A.: Não estou a entender.
D.: Olhe, se não tem cirurgiões para adiantar serviço, convoque a D. Evanilda para ajudar.
S.A.: A D. Evanilda? A senhora das limpezas?
D.: Essa mesma.
S.A.: Mas ela é das limpezas. Não tem qualquer formação em medicina.
D.: Tem pois. Afinal não é ela que carrega os sacos cheios de seringas e gases e essas coisas todas?
S.A.: Sim...
D.: Está a ver? Afinal ela tem conhecimentos.
S.A.: Mas...mas...mas...
D.: Mas, nada! Chame a D. Evanilda e ponha-a a acompanhar a próxima cirurgia com um bloco e uma caneta na mão. Se ela tiver alguma dúvida, durante a cirurgia que faça as perguntas ao cirurgião que ele explica-lhe.
S.A.: Mas... mas...mas...
D.: Estou em crer que...diga-mos...em cerca de um mês estará preparada para começar a trabalhar.
S.A.: Acha que isso é seguro? Isso não é seguro.
D.: Não se preocupe, é só para despachar serviço.
S.A.: Mas a D. Evanilda não tem qualquer tipo de conhecimento sobre a matéria.
D.: Eu já vi a D. Evanilda a desinfectar uma ferida no seu próprio braço.
S.A.: E se chamássemos externos, qualificados, com formação...
D.: Nã! Isso é muito caro. Esta é a solução perfeita.
S.A: Mas a senhora não tem qualquer documento que a qualifique.
D.: Passe-me aí uma folha em branco.
S.A.: Está aqui!
D.: Eu, Josefino Augusto Murteira, declaro que a D. Evanilda tem, desde hoje, competências para executar a função de cirurgia cardíaca e outras que se justifiquem. - Está assinado. Coloque-lhe um selo branco e pronto, está a ver, afinal a D. Evanilda afinal tem um documento que lhe atribuí competências.
S.A: Mas isso não é legal!
D.: Claro que é.
S.A.: Não, não é!
D.: O director sou eu, eu é que tenho os conhecimentos, eu é que sei.
E assim, a D.Evanilda, até então empregada de limpeza...ou melhor, desculpem, técnica de higiene em profundidade, passou a ser técnica de cirurgia aplicada.
E assim vai este país.
Mais vale passarmos a investir nos conhecimentos localizados e tentarmos meter os nossos filhos em determinados sectores públicos, do que andar a investir numa formação académica, pois isso não lhe vai valer de nada num futuro laboral.
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