Momentos - A mulher islâmica
Aconteceu num destes dias quando
fui a um Centro Comercial e me encontrava na zona da restauração. Percebi – se dúvidas
ainda tivesse – como somos um povo, ainda, preconceituoso e de princípios
duvidosos.
É
sabido da dificuldade que existe quando, pelo horário típico de almoço,
tentamos encontrar nessas zonas de restauração de um Centro Comercial, uma
mesa, para podermos degustar o nosso repasto. Tantas são as vezes em que
andamos em circulo, de tabuleiro nas mãos e de olhar em riste, em busca de um
local.
Pois
bem, foi com esta expectativa que me desloquei naquele espaço; dificuldade em
encontrar uma mesa onde, tranquilo, pudesse almoçar. Comprei o que desejava
comer e, de tabuleiro na mão, deambulei entre as mesas repletas de gente. Já
conformado de que me teria de encostar em qualquer lado e comer de pé, eis que
me apercebo de uma clareira com umas quatro mesas livres. Aproximei-me e,
verificando que sim, haviam mesas livres, sentei-me numa delas. Percebi alguns
olhares na minha direcção. Não os percebi inicialmente. Alguns pareceram-me
olhares inquisidores. Mantive-me sentado e iniciei o meu almoço. A determinada
ocasião, porque sou algo distraído ou dou pouca ou nenhuma importância a quem
se movimenta ao meu redor, liberto-me dos meus pensamentos e olho para a mesa
ao lado.
Sentada,
sozinha, degustava algo que não tive a curiosidade de ver o que era. Diante de
si, um computador portátil e, ao seu lado, um livro de lombada alta.
O
meu olhar não demorou mais de dois segundos. Curiosamente, nesse espaço
temporal, ela também me olhou. Nesses dois segundos percebi, de imediato,
porque estava aquela mulher sozinha, isolada não do Mundo, mas sim de uma
sociedade preconceituosa, complexada, mesquinha, retardada e de princípios
duvidosos. A mulher ali sentada com um muro de preconceito erguido ao seu
redor, tinha nas suas vestes uma túnica islâmica e na cabeça a tapar os
cabelos, o Hijah (véu islâmico).
Naqueles
ínfimos momentos em que cruzamos o nosso olhar, ela passou a mão direita sobre
aquele manual e efectuou uma pequena reza, beijando a mão. Regressou ao que
fazia, assim como eu.
As
mesas que se encontravam livres, assim continuaram, ainda que tantas histórias
por ali se folheassem em busca de uma estante livre onde se pudessem arrumar.
Tal como nas livrarias e nas bibliotecas, também ali, naquele recreio de
histórias diversas, os diversos tipos de histórias criam fronteiras onde a
literatura e cultura não as deixam criar.
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