quinta-feira, dezembro 05, 2019

Momentos - A mulher islâmica


               Aconteceu num destes dias quando fui a um Centro Comercial e me encontrava na zona da restauração. Percebi – se dúvidas ainda tivesse – como somos um povo, ainda, preconceituoso e de princípios duvidosos.
                É sabido da dificuldade que existe quando, pelo horário típico de almoço, tentamos encontrar nessas zonas de restauração de um Centro Comercial, uma mesa, para podermos degustar o nosso repasto. Tantas são as vezes em que andamos em circulo, de tabuleiro nas mãos e de olhar em riste, em busca de um local.
                Pois bem, foi com esta expectativa que me desloquei naquele espaço; dificuldade em encontrar uma mesa onde, tranquilo, pudesse almoçar. Comprei o que desejava comer e, de tabuleiro na mão, deambulei entre as mesas repletas de gente. Já conformado de que me teria de encostar em qualquer lado e comer de pé, eis que me apercebo de uma clareira com umas quatro mesas livres. Aproximei-me e, verificando que sim, haviam mesas livres, sentei-me numa delas. Percebi alguns olhares na minha direcção. Não os percebi inicialmente. Alguns pareceram-me olhares inquisidores. Mantive-me sentado e iniciei o meu almoço. A determinada ocasião, porque sou algo distraído ou dou pouca ou nenhuma importância a quem se movimenta ao meu redor, liberto-me dos meus pensamentos e olho para a mesa ao lado.
                Sentada, sozinha, degustava algo que não tive a curiosidade de ver o que era. Diante de si, um computador portátil e, ao seu lado, um livro de lombada alta.
                O meu olhar não demorou mais de dois segundos. Curiosamente, nesse espaço temporal, ela também me olhou. Nesses dois segundos percebi, de imediato, porque estava aquela mulher sozinha, isolada não do Mundo, mas sim de uma sociedade preconceituosa, complexada, mesquinha, retardada e de princípios duvidosos. A mulher ali sentada com um muro de preconceito erguido ao seu redor, tinha nas suas vestes uma túnica islâmica e na cabeça a tapar os cabelos, o Hijah (véu islâmico).
                Naqueles ínfimos momentos em que cruzamos o nosso olhar, ela passou a mão direita sobre aquele manual e efectuou uma pequena reza, beijando a mão. Regressou ao que fazia, assim como eu.
                As mesas que se encontravam livres, assim continuaram, ainda que tantas histórias por ali se folheassem em busca de uma estante livre onde se pudessem arrumar. Tal como nas livrarias e nas bibliotecas, também ali, naquele recreio de histórias diversas, os diversos tipos de histórias criam fronteiras onde a literatura e cultura não as deixam criar.

Sem comentários: