O que se viu no passado fim-de-semana no Bairro da Jamaica, lugar de extrema pobreza e socialmente abandonado, envergonha ou teria de envergonhar qualquer pessoa que se auto-intitule de humano. Ainda esperei ver o Presidente Marcelo a acompanhar os serviços, mantendo a distância social e a cumprimentar os residentes com um toque de cotovelo. Mas ele não apareceu.
Se até então o vírus era um problema pandémico, social e de saúde pública, no Bairro da Jamaica e já em pleno desconfinamento nacional, ficou a sensação de que o contágio local se ficou a dever a algum acto criminoso, tal foi o aparato policial que foi deslocado para ali. É nos actos que se v~e o carácter e não nas palavras ou intenções, como as que proferiu a senhora comissária, respondendo às perguntas dos jornalistas quando questionada sobre a razão de tão musculado contingente policial.
Falou, falou a senhora mas nada de concreto disse, mostrando-se incomodada e comprometida com a situação.
Dei comigo a pensar, após um passeio pelas ruas de Matosinhos - onde pude constatar que as marisqueiras se encontravam de esplanadas repletas de clientes sem distância social entre mesas - que triste é a diferença social que um Estado, supostamente laico, implementa na sociedade, sobre a qual tem uma enorme responsabilidade educativa, de protecção e igualdade de direitos e deveres. é que no Bairro da Jamaica trancaram-se pequenos espaços comerciais com portas de ferro e cadeados soldados, a fazer lembrar Luís XVI e o Estado Novo e os seus presos do Tarrafal.
Em Matosinhos a fartura escuta-se nas conversas de quem se despoja nas repletas esplanadas, ou no rugido dos motores dos veículos de luxo que se passeiam na avenida. Se olharmos com olhos de ver, facilmente percebemos as diferenças económicas e a tez dos habitantes dos dois locais.
Sugiro a este Estado justo e equitativo que num próximo confinamento coloquem os ricos e abastados nos Bairros da Jamaica que andam por aí, e os jamaicanos nas penthouses de luxo.
Haja vergonha no comportamento, senão chamo os justiceiros Jair Trump e Donald Bolsonáro.
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