terça-feira, agosto 11, 2015

As férias no Algarve

Certo dia, durante as férias, a minha mãe chegou junto de mim e questionou-me; «Miguel, gostavas de ir com a tia de férias para o Algarve?». O Algarve, ainda hoje, é uma zona de Portugal muito procurada, mítica, diria. Desejada por tantos milhares que nunca lá foram, a não ser em revistas, postais enviados por familiares ou pela televisão.

Para mim, aos oito anos de idade, poder ir ao Algarve passar férias era como ganhar um prémio na Lotaria. Eu queria muito ir com os tios aquela terra que se chamava Algarve e que tinha umas casas com umas chaminés diferentes.

 Fiquei muito entusiasmado com a ideia.

Quando os meus tios chegaram a minha casa, corri todo entusiasmado a dar-lhes a novidade, como se eles já não a soubessem. Afinal eram eles que me iam levar ao “El Dourado” dos veraneantes portugueses. Afinal, durante o verão, principalmente no mês de Agosto, o país inclina-se e quem não se agarrar bem vai parar ao Algarve. E nesse ano eu não me queria agarrar bem. Ao dar a novidade, os meus tios riram-se e começaram a “entrar” comigo;

 - Então mas queres ir connosco? E não vais chorar?
 - Não choro! – respondi – Quero muito ir.
 - Mas não sei se tenho lugar para ti, no carro – dizia o meu tio – Vou eu, a tia, a prima, a tenda, os sacos-cama e todas essas coisas.
 - Então, mas eu posso levar a tenda e os sacos-cama ao meu colo – argumentava da forma como podia para não perder as férias do Algarve.

Não se mostrou necessário transportar todo aquele material em cima de mim. A carrinha, Toyota Corolla azul, dos tios, foi capaz de transportar tudo. Não tenho grande ideia da viagem, porque na ocasião havia muito o hábito de se fazê-la durante a noite. Era mais fácil de atravessar o Alentejo, pois dessa forma não se sofria com todo o calor alentejano e as crianças, eu e a minha prima, que deveria ter uns cinco anos de idade, iriamos a dormir.

Chegámos ao parque de campismo pela manhã. O meu tio fez o registo de entrada e, quando chegou ao carro disse «vais ter de te esconder para o guarda não te ver» e eu tentei esconder-me, de ninguém, para que não me vissem.

Entramos.

O parque de campismo era muito bom. Pelo menos era o que dizia o meu tio. E se ele dizia, uma vez que era adulto, então deveria ter razão. Acenávamos que sim. E na verdade era. Visitei-o alguns anos mais tarde e realmente comprovara-o. Era muito bom, o parque de campismo. Tinha muitas sombras, excelentes balneários, bons acessos. Do outro lado da rua estava a praia.

 A ida de férias trazia duas novas experiências, a primeira, o facto de ir de férias ao Algarve e a
 segunda a de ir acampar. A montagem da tenda, a preparação do espaço, as regras do barulho, do cuidado para não levar areia para dentro da tenda, ui! Tanta coisa nova.

Visitámos praias e locais. Fomos à ilha de Tavira e aí diverti-me muito. Até andamos de barco para lá chegar. Mais uma nova experiência. Que emoção! No entanto, na praia de Monte Gordo, iria surgir um acontecimento que me marcaria as férias de sonho. Foi ali, naquela praia onde a água parece “caldo”, numa maré vazia, que assisti à briga de dois irmãos pela posse de uma alforreca. De uma alforreca, imagine-se. Aquele bicho gelatinoso, branco, que segundo o meu tio «não se pode tocar, porque se o fizermos ficamos com comichão para toda a vida». «Para toda a vida?». Fiquei muito assustado, não o demonstrando. Olhava para aqueles dois à briga, por causa de uma alforreca. Olhei em meu redor e vi, no areal, muitas e muitas alforrecas. Tive vontade de correr dali. Fiz-me forte e nada disse aos meus tios. Porém, nessa noite, algo de terrível aconteceu. Enquanto dormia, sonhei que estava rodeado e a ser atacado por dezenas de alforrecas. Acordei muito assustado e, olhando no escuro ao meu redor, via-as. Estavam ali, a cercar o meu saco-cama, a vigiarem-me, prontas para me atacarem e me deixarem com comichão para toda a vida. Tive vontade de gritar, chamar pelos meus tios, mas não o fiz. Apenas me limitei a chorar em silêncio, horrorizado, sem fazer barulho com medo que aquelas malditas me escutassem e viessem para cima de mim. Chorei, baixinho, em silêncio, sempre na mesma posição, sem me mexer. Tinha medo de um ataque súbito. Desejava apenas que a noite terminasse, mas nestas situações o tempo não passa O relógio parece parar.

De manhã, assim que escutei a voz do meu tio, sabia que ele me viria salvar de todas aquelas alforrecas. Lentamente levantei a cabeça e abri os olhos na esperança de o ver. Ao olhar em meu redor, reparei que as alforrecas tinham desaparecido. Pensei então «assustam as crianças, mas fogem dos adulto. Malditas!».

No regresso a casa, no final das férias, fiquei triste por aquele tempo ter passado tão rápido, mas muito feliz por voltar a ver os pais e ir ficar longe daquelas alforrecas que me fizeram chorar.

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