sexta-feira, novembro 20, 2015
Hoje aconteceu!
Enquanto caminhava, no meu sentido, embrenhado nos meus pensamentos, nos meus devaneios, nas minhas inquietudes, daquelas que todos temos, banais, superficiais, absorvendo a luz do sol resplandescente, tive a percepção de que alguém fazia uma diagonal na via em minha direcção.
A principio, naquele segundo inicial, julguei ser uma traição de visão e que seria apenas uma pessoa, um transeunte que, tal como eu, aquela hora, apenas se deslocava, caminhando, na sua vida.
O meu olhar periférico chamou-me para um olhar mais atento...olhei!
Um homem na casa dos sessenta e muitos anos deslocava-se numa diagonal propositada na minha direcção. Poderia querer alguma informação, pensei. Estaria a uns cinco, seis metros de distância do meu ponto de trajectória. Segui a minha passada.
"Desculpe!" - disse, continuando com uma nova frase.
"Perdão?!" - disse-lhe eu, não percebendo o que tinha dito
O homem, um senhor razoavelmente vestido, com umas calças em sarja, uma camisa e um blusão. O olhar, esse mostrou-se triste. Verifiquei após uma análise mais atenta. Por detrás daqueles óculos, uns olhos verdes apresentavam uma visão desarmada, destruída, envergonhada.
"Perdão!" - disse-lhe - "Não percebi o que disse." - informei.
"Poderá dar-me algum dinheiro para eu poder comprar algo para comer?" - solicitou-me.
"Desculpe!" - disse-lhe, aparvalhado, talvez.
"Perguntei se não me podia dar algum dinheiro para eu poder comprar comida."
Levei as mãos aos bolsos e não encontrei moedas. Senti o chão fujir-se-me debaixo dos pés.
"Não tenho dinheiro comigo!" - disse-lhe - "Desculpe!" - pedi-lhe eu por não o poder ajudar.
"Eu é que peço desculpa por estar a pedir." - disse-me.
Seguiu o seu caminho, num passo lento, demorado, sem tempo de chegar, derrotado, arrastado.
Fiquei a olhá-lo. Senti-me triste de não o poder ajudar. Vi-o desaparecer na esquina do prédio.
Naquele momento senti uma enorme raiva. Tive vontade de gritar...e na verdade fi-lo de uma forma silenciosa. Acabara de vir de almoçar e pensei para comigo que, aquele senhor, aquele idoso, me deveria ter encontrado antes. Assim, teria ele almoçado, não eu.
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