"O Mercedes preto surgiu no descampado vindo de um caminho em terra batida por detrás de um canavial. O espaço era ermo e servia, essencialmente, de base de suporte da velha ponte férrea, de pilares ovalizados, sobre o rio Guadiana, às portas de Serpa.
O tempo estava seco, o que fazia com que se levantasse uma pequena nuvem de pó nas traseiras do automóvel. A uma velocidade não superior a dez quilómetros por hora, o veículo de construção alemã executou duas voltas por um caminho demarcado pelas muitas viaturas que ao longo dos anos por ali vão circulando, principalmente aos fins-de-semana, sejam de pescadores amadores que naquele lugar encontram um refugio para momentos de lazer, ou grupos de amigos que ali se ocultam de olhares menos discretos para fumar Marijuana ou Haxixe.
Após duas voltas completas, o Mercedes Classe S 500 4 MATIC longo, equipado com um motor V8 capaz de debitar 335 cv de potência, cujos vidros escurecidos não permitem a visualização do exterior para o conforto do interior, deteve a sua marcha junto ao primeiro pilar norte da ponte. Manteve-se imóvel sem que nada acontecesse. Dois minutos depois, surgiu no largo um Audi A8, cinzento-escuro, jantes cromadas, vidros escurecidos e matrícula belga. Assim que acedeu à área do descampado, parou. Ficou frente a frente com o Mercedes de cor preta. Passados segundos, a porta da frente do lado esquerdo do veículo de matrícula portuguesa abriu-se e, do seu interior, calmamente, o condutor saiu com uma pasta de executivo na mão. Fechou a porta e manteve-se ali, junto ao automóvel, olhando na direcção da outra viatura. Vestia um fato Gucci, preto, camisa branca e gravata escura. Na cara, uns Ray-Ban."
Conspiração - Miguel Branco
Brevemente
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