domingo, julho 31, 2016
Literatura e interpretações
Sempre me senti prejudicado, enquanto estudante, pelo simples facto de, sempre que colocava em causa as conclusões que os professores de lingua portuguesa, essencialmente, davam como certas quando pediam aos alunos para interpretarem um texto ou um poema de um qualquer autor...seja ele qual for.
Algumas, talvez bastantes, admito, foram as vezes em que coloquei a questão «Como pode afirmar que esse era o sentimento do autor deste poema» - ou - «Em que é que se baseia para afirmar que o autor queria mesmo dizer isso neste paragrafo ou frase». Coloquei as questões e os professores simplesmente me mandavam calar, sem conseguirem argumentar, esgrimindo opiniões sobre a minha conduta como sendo destabilizador, pouco estudioso ou mesmo engraçadinho.
Fui prejudicado por que os ditos professores foram formatados para interpretar um determinado texto ou passagem de uma ou outra forma, não tendo a possibilidade, enquanto jovens, de poderem pensar por si, de poderem ver a coisa de forma diferente, de terem uma opinião formada.
Fui prejudicado por que questionava, por que não aceitava que me colocassem à parte, por vezes até os colegas, porque é mau para as notas estarmos do lado de um colega que os professores têm como indisciplinado, quando apenas quer saber a razão da existência de uma linha de pensamento ou interpretação. Sim, fui prejudicado, por que tive professores que não tinham um pensamento próprio, livre de amarras, solto de preconceitos sobre o pensamento livre.
Devo referir que tive uma professora de lingua portuguesa que não era assim. Essa professora permitia-nos expor o nosso ponto de vista, tentando, não moldar-nos, mas sim levar-nos a reflectir sobre o nosso ponto de vista e sobre o ponto de vista instituído. Não nos deixava divagar por incertezas ou especulações, é verdade, mas aceitava a nossa visão, se bem assente numa explicação sã.
Senti-me prejudicado, sim! E hoje, quando escrevo, escrevo livremente as minhas ideias, os meus ideais, a minha forma de ver o Mundo, as coisas que me rodeiam, de interpretar o que quero, como quero ou, simplesmente não interpretar, não tentar colocar no pensamento do autor, seja ele qual for, aquilo que ele realmente não estava a pensar ou quis dizer.
Quem é que conheceu Camões, para ter a certeza que ele disse o que dizem que ele disse, ou que escreveu aquilo que dizem que escreveu. Até a bíblia, esse livro sagrado para os crentes cristãos, tem sofrido alterações, ao longo dos milenios, e interpretações.
Parece-me que o mais importante é perceber se os alunos ou as pessoas têm ideias próprias e quais são os seu ideais. Se sabem perceber o que os rodeia e que interpretação dão aos sinais. Qual a sua razão das coisas. Porque se assim for, estou certo que teremos pessoas mais ricas, mais sabedoras e mais capazes de ocuparem cargos de chefia e de decisão, ao invés de termos energúmenos a engordarem incultamente e formatados grosseiramente, no Parlamento, a decidirem o futuro caminho de um povo amordaçado.
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