domingo, agosto 28, 2016

Os acordes no fundo da rua



Poderá o choro de uma guitarra e os gritos de uma harmónica apresentar, num eco profundo, que nem sempre alcança os mais sensíveis tímpanos, mostrarem que um par de extremidades dedilham a dor de, quem não vê, vai vendo o que o seu redor lhe reserva?


Poderá esse choro conseguir que quem calcorreia a calçada pare, escute e e sinta, mesmo sem olhar, o sofrimento, não de quem se apresenta, mas sim de quem representa, os muitos e tantos que por essas calçadas fora dedilham o seu choro, a sua angustia, a sua debilidade, a sua fragilidade, a sua dor, a sua esperança, o seu tempo, a vontade de que um dia, um dia, quem sabe, alguém pare, escute e perceba que, todo aquele choro, toda aquela representação, nada mais é do que um grito de chamamento, um grito de ternura, um grito de aflição.

Lá no fundo da rua escuto o ronronar de uma harmónica, de um chamamento, de algo que não sei identificar; mas aproximo-me e fico a contemplar aquele ser, aquele singelo ser que toca e encanta, mesmo que não tenha a performance e a técnica apurada da arrogância de quem critica e a cara vira, os ouvidos tapa e faz de conta que nada se passa.

E quando após passar a ranhura, o tilintar da moeda, seja ela qual for, cai dentro daquela pequena e quase vazia caixa de plástico, das cordas vocais daquele ser sai um humilde agradecimento em tom de palavra - Obrigado! - acompanhado por um conjunto mais de acordes.

Há muitos! Sim, há muitos por essas ruas a tocar. Pena que não hajam mais, muitos mais, que possam pintar as ruas das cidades, os centros históricos e turísticos com os seus instrumentos musicais, mas em contexto diferente. Se assim fosse, a melodia seria outra ou escutada de outra forma. Seria uma melodia de encantar, de alegria, de luz, de encanto.

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