Chegaram as primeiras unidades da história. Conspiração, de nome, retrata os meandros do mundo politico e a perigosa promiscuidade entre este e as instituições de investigação criminal.
"...
O Mercedes preto surgiu no descampado vindo de um caminho em terra batida por detrás de um canavial. O espaço era ermo e servia, essencialmente, de base de suporte da velha ponte férrea, de pilares ovalizados, sobre o rio Guadiana, às portas de Serpa.
O tempo estava seco, o que fazia
com que se levantasse uma pequena nuvem de pó nas traseiras do automóvel. A uma
velocidade não superior a dez quilómetros por hora, o veículo de construção
alemã executou duas voltas por um caminho demarcado pelas muitas viaturas que
ao longo dos anos por ali vão circulando, principalmente aos fins-de-semana,
sejam de pescadores amadores que naquele lugar encontram um refugio para
momentos de lazer, ou grupos de amigos que ali se ocultam de olhares menos
discretos para fumar Marijuana ou Haxixe.
Após duas voltas completas, o
Mercedes Classe S 500 4MATIC longo, equipado com um motor V8 capaz de debitar
335 cv de potência, cujos vidros escurecidos não permitem a visualização do
exterior para o conforto do interior, deteve a sua marcha junto ao primeiro
pilar norte da ponte.
Manteve-se
imóvel sem que nada acontecesse.
Dois minutos
depois, surgiu, no largo, um Audi A8, cinzento-escuro, jantes cromadas, vidros
escurecidos e matrícula belga. Assim que acedeu à área do descampado, parou. Ficou
frente a frente com o Mercedes de cor preta.
Passados
segundos, a porta da frente do lado esquerdo do veículo de matrícula portuguesa
abriu-se e, do seu interior, calmamente, o condutor saiu com uma pasta de
executivo na mão. Fechou a porta e manteve-se ali, junto ao automóvel, olhando
na direcção da outra viatura. Vestia um fato Gucci, preto, camisa branca e
gravata escura. Na cara, uns Ray-Ban.
No Audi o procedimento foi
idêntico. Do lugar do condutor saiu um homem, cerca de metro e oitenta de
altura. Vestia um fato cinzento prata, Armani, uma camisa branca e uma gravata
rosa esbatido. Consigo trazia, também, uma pasta preta de executivo. Fechou a
porta do automóvel. Ajeitou o nó da gravata e iniciou uma suave e determinada
caminhada.
Do lado da viatura preta, o homem, que até então
estava imóvel, fez o mesmo. Estavam a uma distância de quinze metros um do
outro. Caminharam calmamente, com o olhar em frente, quase em espelho,
controlando-se um ao outro. O silêncio do local quase permitia escutar os grãos
de areia que as solas de cabedal tratado dos sapatos de fabrico português, mas
que no entanto eram de etiqueta italiana, faziam ao serem pisados.
..."
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