sexta-feira, junho 09, 2017

# A velocidade do relógio



Ouve-se, muitas vezes, as pessoas dizerem que parece que o tempo, nos dias de hoje, passa mais rápido do que nos tempos mais antigos, já idos, sendo "tempos mais antigos" um espaço temporal definido de acordo com as vivências de cada um.

Dei comigo a pensar nessa pequena reflexão social e, durante um minuto fiquei a olhar o relógio que se encontra pendurado numa das paredes da cozinha, mesmo acima de uma das portas de acesso à dita divisão;

...58 ...59 ...60!


Sessenta saltitos que deu aquele ponteiro vermelho, o maior dos três que ornamentam o relógio analógico que, num tic-tac sincronizado, vai marcando a compasso o tempo que passa hoje, tal como passava em "tempos mais antigos".

Sessenta são os segundos que compõem um minuto, hoje e em tempos antigos. São sessenta passos que não passam mais rápido hoje, mas que parece que sim, que passam. E parece que sim por que, em tempos mais antigos, os acontecimentos globais não eram tão sequenciais e a informação não chegava à velocidade que chega hoje, tal como a tecnologia de informação proporciona que aconteça.

Nos tempos mais antigos, nesse minuto ou sessenta segundos, um passarinho conseguia cantar uma melodia, rodeado de um silêncio crepuscular. Hoje, o crepúsculo já não é silencioso e a composição da melodia é alterada a cada segundo de cada minuto, baralhando por completo o alinhamento das notas da melodia.

O passarinho deixou de saber como cantar e passou a limitar-se a imitar os sons correspondentes ao sinal da batuta. A velocidade dos acontecimentos aceleraram-no numa taquicardia, dando-lhe a sensação de passagem do tempo mais rápido.

Prostituíram-nos a uma realidade que não desejamos, mas na qual bebemos, nos embrenhamos e nos viciamos.

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