De olhar preso num horizonte infinito e vazio, aqueles sentimentos viajam vagabundos por um tempo que só ele sabe, só ele conhece, só ele pode descrever, observar.
De olhos vidrados em memórias, aquele momento aquele momento de imaculada interiorização fá-lo percorrer anos, quiçá corredores de lembranças e saudades.
Olho-o sem o querer entender, percebendo a solidão do momento, um em tantos iguais aos diferentes na história, mas gémeas na imensa procura da resposta em tantos outros assentos.
Num pausado e silencioso piscar de olhos vira a página e limpa uma lágrima de dor, amor, raiva, angustia e paixão. Uma lágrima de eterna saudade.
Com um soslaio olhar ao céu de quem tem medo de ver um futuro mais medonho, sem tempo de reflexão e com um julgamento social atroz, brutal e selvático, passam por ele transeuntes anônimos. E ele, com aquele profundo olhar sem barreiras, amarras ou coordenadas, de uma bússola sem pontos cardeais definidos, de um astrolábio sem estrelas, passa pela face, enrugada, ressentida e rendida, uma mão consumida pelo tempo. Tempo esse que já não conta, que já não vale, que já não manda.
São dias perdido onde o calendário já não vai, evocando memórias e aguardando o dia, aquele dia que não tem data, a viagem, o reencontro.
Ali, naquele banco de jardim, arquivo de riqueza, conhecimento e vivências, de saberes e histórias de encantar, fica sentado numa mórbida solidão humana, num abandono não assumido, num calendário rasgado pelo tempo e num relógio onde a ténue corda teima em não acabar, aquele a quem a sociedade chama de "velho".
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