quinta-feira, setembro 04, 2014
Um esforço de vida
Como sabem, quem sabe, sou instructor de condução automóvel e nesta profissão que desenvolvo há mais de 20 anos, tenho constactado que, cada vez mais, a rapaziada mais nova apresenta uma letargia que "assusta" e me leva tantas e tantas vezes a reflectir sobre o que é que estamos a criar.
Que homens e mulheres são estes que veem um esforço na vida, tão viciados se mostram na arte de serem servidos, principalmente pelos progenitores que, de mão beijada, lhes proporcionam um regalo de existência. Na verdade não os preparamos, uns mais do que outros, efectivamente para os desafios, muitos deles de difícil resolução da sua caminhada.
Também sou pai e sei que tenho a obrigação e o dever mostrar o caminho aos meus filhos, de os alertar para eventuais obstáculos, ensiná-los a os identificarem e até, por vezes a lhes sugerir formas de os superarem. No entanto, mesmo que adaptemos uma posição de observador, não devemos, de modo algum, fazer o caminho de joelhos à sua frente, retirando-lhes do caminho as pedras que vão surgindo, ou derrubando as montanhas, para que lhes seja mais fácil passar.
Se os queremos educar, temos de lhes dar responsabilidade, permitir que falhem, ainda que sejam pequenas falhas e, sentados a seu lado, explicar-lhes o erro, mas nunca assumindo a consequência desse erro por eles.
Considero-me Primus Inter Pares da instrução de condução, do mundo.Não é prepotência da minha parte. É como me vejo. Certamente até nem serei. Outros terão a mesma postura e o lugar cimeiro do pódio irá albergar muitos de nós. Aliás, nem sei quais os critérios que cada um de nós pode utilizar para nos auto-elegermos assim.
Não há troféus. Aliás, há! A vitória. O prazer de ver um "filho" a crescer e a alcançar o seu objectivo; a aprovação. Sim, é assim que os vejo, "filhos meus" quando entram no meu automóvel para receberem formação. "Filhos" muitas vezes mais velhos do que eu. Mas como meus "filhos" que são, deles exijo uma postura correcta, aplicação na sua aprendizagem, responsabilidade nos seus actos e uma boa atitude.
E como meus "filhos" que são, para eles devo estar disponível para os formar, ajudar a crescer, motivar e enaltecer quando praticam correctamente o apreendido, mas também ralhar, chamar à atenção e castigar quando assim tem de ser (quando dizem que não conseguem ou mostram não querer conseguir).
Uns aceitam, apesar das birras e má cara que fazem, mas no fim agradeceu. Outros há, contudo, que fazem as malas, abandonam o lar e à distância os vemos, por vezes, perdidos. Casos raros, mas acontecem, os "filhos" que, depois de saíres de casa, regressam mais tarde para lhes ensinarmos o caminho.
Quando saímos do automóvel, aquele "filho" deixa de o ser para ser mais um cidadão igual a mim, com os mesmos direitos e deveres. Dentro do automóvel ficaram os desabafos de um confessionário não celestial, mas numa garantia de pacto de silêncio. O que se diz dentro de um automóvel de instrução automóvel, fica dentro do automóvel de instrução automóvel. Assim como ficam os ralhetes e as chamadas de atenção.
Bater? Jamais, porque aos meus filhos eu não bato...educo.
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