segunda-feira, novembro 16, 2015


Viajar de comboio, cada dia é uma aventura. Diversas são as histórias que se cruzam, conversas distintas em cada assento. Bolhas isoladas sem paredes de retenção de som, fazem ecoar pela carruagem as mais distintas considerações.

Dois bancos mais adiante do meu, um grupo de três adolescentes conversavam, num destes dias, sobre as suas aventuras e desaventuras diversas, atritos e amizades, uma delas num permanente fungo nasal se retenção de um muco que não tinha.

Mais atrás, num tom de voz elevado, sem qualquer cuidado de resguardo de informação, permitindo que todos escutassem, uma senhora na casa dos quarenta, falava ao telefone sobre vida alheia e outras dores. Falava com alguém que se queixava doer-lhe algo, pois a determinado momento, bem audível, comentou:

"O que andou você a fazer esta noite para lhe cair o músculo? Devem ter ca sido umas lindas posições, devem."

Mais adiante, três pessoas, alternadas nos lugares, isolam-se do meio e devoram páginas de livros, consumindo as letras, as palavras e as frases.

Olhando com os meus ouvidos toda aquela parafernália, volto a mergulhar nas páginas do livro que estou a ler e torno-me ausente, camaleónico, invisível. Sigo a viagem numa leitura atenta, transferindo-me para o local da acção.



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