
- Sim , acho! Depois disso, procurei encontrar um sitio onde pudesse estar sempre que me sentisse chateado; e foi este o que encontrei. Sabes, gosto de aqui estar a contemplar o céu. Gosto de fechar os olhos e ficar a escutar o nada.
(silêncio)
- Gostas de ler?
- Gosto.
- Eu também gostava de gostar de ler.
- E não gostas?
- Na verdade não é que não goste, mas acho que nunca me ensinaram a gostar de ler.
- Posso ensinar-te, se quiseres.
- A sério? E como é que se faz isso?
- É fácil. Gostas de filmes?
- Sim.
- Então isso é meio caminho andado.
- Mas gostar de ler livros não tem nada a ver com gostar de ler.
- Não? Então porquê?
- Olha que pergunta! Nos filmes tens as cenas, as músicas, os sons, a envolvência, a emoção, os grandes planos, as expressões das personagens...
- Hum! Hum!
- ... num livro, tens um conjunto de letras, sei lá!
- Pois, é verdade! - rodou a cabeça, olhando para Rodrigo. Este mantinha-se com os olhos fixos no céu. - Eu também gosto de ver filmes, mas se posso criar, dentro da minha cabeça, na minha imaginação, as cenas, o espaço da acção, a fisionomia das personagens; posso imaginar as vozes, as músicas que completam as cenas... aliás, melhor ainda, posso ver-me na pele das personagens, sentir o que eles sentem, ver o que eles veem, partilhar as suas emoções, sejam elas de alegria ou tristeza, mas também posso colocar-me como mero observador.
- E consegues isso tudo quando lês um livro?
- Sim, tudo! Mas claro, nem todos os livros me proporcionaram isso.
- Não!?
- Não. Primeiro temos de encontrar o tipo ou os tipos de literatura com que nos identificamos. Por exemplo, eu não gosto de romances literários, nem os chamados "fantástico" ou os romances amorosos. Gosto de aventura, policiais, crime, suspense.
- Então e eu?
- Não sei! Que tipo de filmes gostas?
- Gosto de filmes de aventura.
- Optimo! Vou arranjar-te um de aventuras.
(silêncio)
- Sabes... - disse Raquel - ...também gosto de estar aqui.
- É bom, não é?
- Sim, é muito fixe. - silêncio - E vens cá há muito tempo?
- Se calhar há mais de um ano.
Estendendo o seu braço direito, deu a mão a Rodrigo, enquanto se mantinham deitados na relva a contemplar o céu.
Sem comentários:
Enviar um comentário