Hoje a minha escrita faz-me lembrar aquele pescador que, no final de um dia a mergulhar o anzol no meio de um cardume, acaba por regressar a casa apenas com um exemplar, o mais pequeno de todos os que por ali passam e que, por incauto, ou apenas pouca destreza, ficou prezo pela cauda no artefacto.
Hoje a minha escrita faz-me lembrar as ruas vazias de gente, com tanta gente à janela e à varanda de cada casa, apenas a observar a passagem de um vírus que não é para todos.
Hoje a minha escrita faz-me lembrar todos aqueles animais que, apesar de sós, se sentem tão envolvidos de vida, de uma liberdade que sabem ser efémera, quimérica, mas que ainda assim os completa.
Hoje a minha escrita não é um copo vazio, mas um shot a quem aquela garrafa contemplou com um pouco do seu néctar.
Hoje a minha escrita não é um peixe pequeno, mas sim o alimento que sacia a minha fome de escrever.
Hoje a minha escrita é um mar de gente feliz num qualquer parque verdejante e colorido de alegria e vida.
Hoje a minha escrita é a felicidade da conquista do animal que, tranquilo, pode passear-se pelo lugar que outrora foi seu e lhe roubaram.
Hoje a minha escrita são uns quantos parágrafos de nada, uns quantos parágrafos de tudo.
Imagem: Hypeness
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