" Mais tarde, alguns meses depois, acontecera estranho. Como não era normal acontecer, Armando não reagia ao movimento das mãos e parecia sentir-se perdido. Reagia apenas à voz, levantando ligeiramente a cabeça, tentando perceber de onde viria. Algo se passava. Emília percebeu que Armando poderia sofrer de problemas de visão. O tempo confirmara-o. Armando nascera cego. O doutor Antunes, o médico de Santarém que visitava Azinhaga sempre que era chamado, confirmara-o, «O menino tem uma obstrução nos olhos. Não consegue ver».
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e as cores da escuridão do meu pai, do Armando Pereira, não foram o doirado dos
campos, o amarelo do sol, o verde das árvores ou o azul do céu. – ia dizendo –
As cores da escuridão do meu pai, sempre foram a amizade, o carinho, o afecto,
a entreajuda, o amor que partilhou com a minha avó mas que ninguém quis ver. As
cores da escuridão dele são a minha existência, o meu amor por alguém que não
me deixaram conhecer."
in "As cores da escuridão" - de Miguel Branco
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