Desembrenho a caneta, num movimento de volta e meia, e mergulho-lhe a ponta no tinteiro de tinta permanente. Acciono o embolo e encho o compartimento de liquido negro. Do monte de folhas de papel branco, cândidas, que se acumula, simétrico, diante de mim, extraio uma unidade.
Olho-a.
Sinto-a preparada piara receber o êxtase da minha caneta a
derramar sobre si mais um desvairo, mais um esplendor, mais uma torrente de
ideias, emoções, sensações e negras confissões.
Rebusco na minha mente, nas profundezas de um baú esquecido
– ou estarão escondidas? – as mais preciosas agruras da vida; estou nostálgico
e só na cidade, apesar de ao meu redor um cem número de almas pairarem numa hipnose
que não conheço – ou serei eu que estou alvejado por um estado esquizofrénico? –
Fica a duvida.
A minha mente mente está despejada.
Quero escrever a vida, mas encontro-me trancado num profundo
vazio opaco.
Esforço-me.
A caneta olha nervosamente a folha, aquela folha imaculada.
Um arrepio, súbito, rasgou-me, num grito apache, de guerra,
coluna acima, levando-me a estremecer.
A folha quis fugir. Não conseguiu.
A caneta, nervosa, transpirou uma gota de tinta que,
projectando-se na folha cândida, explodiu em mil pequenas gotas ansiosas que
mancharam a límpida existência da terna folha branca.
Aquela violação provocou em mim uma injecção de adrenalina que me levou a um estado de desequilíbrio emocional, reflectido por actos de loucura; e eles entraram na sala, e eles agarram-me, e eles amarraram-me, e não havia folha, nem caneta ou tinteiro, nem nada, nem ninguém, nem eu...
E no meu vazio fiquei ali, a olhar o vazio.
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