segunda-feira, janeiro 22, 2018

# Nem eu...



Desembrenho a caneta, num movimento de volta e meia, e mergulho-lhe a ponta no tinteiro de tinta permanente. Acciono o embolo e encho o compartimento de liquido negro. Do monte de folhas de papel branco, cândidas, que se acumula, simétrico, diante de mim, extraio uma unidade.

Olho-a.


Sinto-a preparada piara receber o êxtase da minha caneta a derramar sobre si mais um desvairo, mais um esplendor, mais uma torrente de ideias, emoções, sensações e negras confissões.

Rebusco na minha mente, nas profundezas de um baú esquecido – ou estarão escondidas? – as mais preciosas agruras da vida; estou nostálgico e só na cidade, apesar de ao meu redor um cem número de almas pairarem numa hipnose que não conheço – ou serei eu que estou alvejado por um estado esquizofrénico? – Fica a duvida.

A minha mente mente está despejada.

Quero escrever a vida, mas encontro-me trancado num profundo vazio opaco.

Esforço-me.

A caneta olha nervosamente a folha, aquela folha imaculada.

Um arrepio, súbito, rasgou-me, num grito apache, de guerra, coluna acima, levando-me a estremecer.
A folha quis fugir. Não conseguiu.



A caneta, nervosa, transpirou uma gota de tinta que, projectando-se na folha cândida, explodiu em mil pequenas gotas ansiosas que mancharam a límpida existência da terna folha branca.

Aquela violação provocou em mim uma injecção de adrenalina que me levou a um estado de desequilíbrio emocional, reflectido por actos de loucura; e eles entraram na sala, e eles agarram-me, e eles amarraram-me, e não havia folha, nem caneta ou tinteiro, nem nada, nem ninguém, nem eu...

E no meu vazio fiquei ali, a olhar o vazio.

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