Prostrada
no parapeito da janela, olha a rua. Aquela rua que já conhece de cor, cada tonalidade,
cada timbre, cada passo, cada cheiro, cada fragmento de chão, cada porção de
vida. Olha-a sem no entanto descerrar as portadas, tal é o receio que uma
levada de ar lhe adentre o espaço e a faça adoecer, ainda mais do que já está.
Olha quem passa pela vidraça quadriculada, desde onde e até onde o seu ângulo
de visão lhe permite constatar; não usa óculos!
É uma rua decrepita e envelhecida, uma rua de paredes
sujas e gastas, onde as elegantes e prósperas lojas de outros tempos –
procuradas pela alta sociedade em busca de fazendas luxuosas e peças de
referência – davam agora lugar a espaços anacrónicos e amorfos, com odor a mofo,
alguns de vidros quebrados, outros com gradeamentos toscos nas portadas, agarrados
a paredes enfraquecidas, como a senhora da janela que quem passava...não via!
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