quinta-feira, novembro 21, 2019

Momentos - Viver à janela


Prostrada no parapeito da janela, olha a rua. Aquela rua que já conhece de cor, cada tonalidade, cada timbre, cada passo, cada cheiro, cada fragmento de chão, cada porção de vida. Olha-a sem no entanto descerrar as portadas, tal é o receio que uma levada de ar lhe adentre o espaço e a faça adoecer, ainda mais do que já está. Olha quem passa pela vidraça quadriculada, desde onde e até onde o seu ângulo de visão lhe permite constatar; não usa óculos!


            É uma rua decrepita e envelhecida, uma rua de paredes sujas e gastas, onde as elegantes e prósperas lojas de outros tempos – procuradas pela alta sociedade em busca de fazendas luxuosas e peças de referência – davam agora lugar a espaços anacrónicos e amorfos, com odor a mofo, alguns de vidros quebrados, outros com gradeamentos toscos nas portadas, agarrados a paredes enfraquecidas, como a senhora da janela que quem passava...não via!

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