sábado, fevereiro 15, 2014

Um Amanhecer Diferente - Capitulo VIII



    O Raymond Weil marcava as 10.12 horas quando Manuel acordou estremunhado com a cabeça pesada, a latejar e a boca seca e áspera. Levou as mãos à cabeça quando uma dor aguda lhe atingiu as têmperas e deixou cair a cabeça sobre a almofada. Sentiu uma espécie de vertigem e tentou concentrar-se para perceber o que se passava para, aquela hora, ainda estar deitado, a dormir e com aqueles sintomas. Com os olhos turvos, esfregou-os e olhou em seu redor. Tentou levantar-se e sentiu uma nova ondulação de desiquilíbrio.  Sentou-se na cama, respirou fundo, esfregou novamente os olhos, voltou a olhar em redor, olhou para si próprio e constactou que se encontrava todo nu.


    "Que raio!" - pensou, quando num flash - "Chii! Porra!" - lembrara-se que estava no Iate e que o dia anterior tinha sido muito regado. Voltou a deitar-se na cama e percebeu que o que sentira momentos antes não fora uma vertigem, mas sim a ondulação que a embarcação onde se encontrava fazia num suave e ritmado balouçar. Tentava perceber da razão porque estava todo nu, uma vez que não se recordava de se ter despido. Espreguiçou-se, coçou o escroto e levantou-se. Colocou a água do chuveiro a correr e tomou um banho fresco que o ajudou a recompor-se do seu estado de ressaca. Secou-se num toalhão em turco que tinha gravado o nome EPic Shining. Olhou-se ao espelho e disse para o seu reflexo,

    "Manuel, ontem aquela bebida deu cabo de ti. Homem, vê lá se te recompões, tens uma reunião." - foi dizendo.

    Olhando para o benco que se encontrava aos pés da cama, reparou que tinha um conjunto de roupa, branca, toda branca, composta por umas calças em algodão fino, uma camisa, meias e boxers, também eles brancos. No chão estavam uns ténis brancos com um pequeno simbolo da marca Adidas atrás, no lado exterior do calçado.
    Manuel vestiu-se, ainda que algo intrigado sobre quem lá tinha colocado aquela indumentária e como saberiam o seu número. Depois de composto e perfumado com um Drakkar Noir pequeno que se encontrava numa pequena mesa junto à cama, dirigiu-se à porta, rodou a maçaneta dourada do seu camarote e saiu para o corredor de acesso aos restantes espaços da embarcação. Assim que fechou a porta, escutou atrás de si;

    "Bom dia senhor Manuel, dormiu bem?"
    Voltando-se na direção da voz deparou-se com Catarina, ao que lhe respondeu - "Olá Catarina, sim..." - fez uma pausa - "...quer dizer, penso que sim." - fazendo uma cara de interrogação.
    "Pois eu posso dizer-lhe que gostei muito." - atirou Catarina, acrescentando - "Até lhe posso dizer que o achei fenomenal." - exibindo um sorriso enquanto mordiscava o lábio inferior e abanando o pé direito apoiado na ponta dianteira.
    "Desculpe, Catarina?!" - disse engasgando-se - "Achou-me fenomenal? Como assim...fenomenal?" - pergunta muito atrapalhado.
    "Então, não me diga que não se lembra de nada?" - continuou Catarina, nada espantada com a questão colocada, uma vez que sabia o estado em que estava o Manuel na noite anterior.
    "Ãh!..." - procurando as palavras - "...desculpe, não me recordo mesmo. O que se passou? Está a brincar comigo?" - questionou Manuel num verdadeiro tom de comprometido e envergonhado.
    "Senhor Manuel, não brinque. É certo que estava embriagado, mas o..." - fez uma pausa olhando na direcção do pénis do Manuel e provocando-o - "...não estava nada embriagado. Muito pelo contrário, estava bastante lúcido. E o senhor Manuel tem umas mãos e uma boca..." - respirou fundo - "...maravilhosas." - concluiu com uma risadinha.
    "Ah!... Hum! ...sabe..." - Manuel estava visivelmente atrapalhado.
    "Deixe senhor Manuel. Eu gostei muito, o senhor também me parece ter gostado. Depois voltamos novamente para o aconchego, mas sem álcool." - disse enquanto dava uma pequena mordidela no dedo indicador direito, enquanto se aproximava do ouvido do Manuel - "tem uma língua fantástica e fica muito bem a dormir todo nu."

    Manuel, bastante corado mas cheio de desejo de voltar a realizar a aventura, pediu licença a Catarina e deslocou-se ao primeiro andar do EPic Shining onde estava a ser servido um pequeno-almoço revigorante, composto à base de ovos estrelados, bacon frito, salsichas, cogumelos e tomates. A acompanhar, feijão cozido e morcela. Um Chá de Creme Comish, uns Sconer e uns Strawberry Jam. As bebidas servidas contam também com a presença de leite e um sumo de laranja, natural.
    Quando chegou à zona externa onde a refeição estava a ser servida, já se encontrava lá a Débora. A angolana olhou para o Manuel, convidou-o a sentar-se e com um sorriso nos lábios dirigiu-se a Manuel,

    "Amigo, ontem estiveste em grande. A ter em conta a excitação da Catarina, estiveste no teu melhor." - disse.
    "Bom dia para ti também Débora." - disse Manuel, continuando - "Se queres saber, não me recordo de nada." - adiantou.
    "A sério?" - questionou com ar de gozo - "Linda e jeitosa como ela é, é um desperdício não teres presente a noite anterior." - adiantou, continuando - "Mas olha que o sorriso que ela tem no rosto e a gritaria que vinha do teu camarote, mostra bem que ela se lembra e gostou."
    "Não gozes Débora."
    "Saíste-me cá um Casanova."
    "Olha lá..." - adiantou o Manuel tentando mudar de assunto - "... afinal de contas que reunião vamos ter nós com o inglês,..." - foi perguntando a Débora enquanto olha para um lado e para outro, para se certificar que ninguém o escutava - "... que ainda não me explicaste bem isso?"
    "Calma Manuel..." - foi adiantando Débora, no sentido de tranquilizar o amigo ourives - "...aproveita a estadia, o sol, a calmaria deste mar, o ambiente..." - ia continuando a angolana, olhando no infinito daquele mar imenso, contemplando a suave ondulação e tentando escapar à questão do brasileiro que, entretanto, a interrompera.
    "Débora, Débora! Já percebi que algo se passa e não me parece que tenha muito a ver com as «reuniões» de Poker organizados pelo GRUPO angolano." - foi dizendo Manuel - "a presença desses amigos..." - fazendo sinal de aspas no ar com os dedos apontadores e médios - "... estrangeiros no pais, como eu, com cargos importantes, a envolverem-se com a tripulação..." - ia falando num tom baixo, interrogativo - "...explica-me lá." - questionou.
    "Manuel, vamos tomar o nosso pequeno-almoço, desfrutar o momento, apanhar um pouco de sol e mais logo, quando reunirmos todos, falamos sobre o que nos trouxe aqui." - tentava esquivar-se às investidas de Manuel.
    "Adianta-me o tema da reunião, vamos lá." - insistiu - "Afinal não estou aqui para participar numa reunião de algumas pessoas com nacionalidades diferentes, apenas porque sou teu amigo."
    "Diamantes." - atirou Débora em tom baixo e mantendo o olhar fora da embarcação.
    "Como? Diamantes? Como assim diamantes?" - questionou em sussurro.
    "Para já não te posso adiantar muito mais.Apenas que a reunião vai centrar-se no tema diamantes..." - foi dizendo - "...e como tu trabalhas com diamantes, foste escolhido." - concluiu.
    "Escolhido? Como assim, escolhido? Estás a falar de quê? - questionou Manuel.
    "Não me perguntes mais nada agora, que não te posso responder." - disse, agora num tom sério e olhando Manuel olhos nos olhos.

    Manuel olhou para a amiga angolana e quando se preparava para apresentar mais uma questão, surgiu o inglês John Caldish com um sorriso aberto e dirigindo-se aos dois;

    "Good morning! dormiram bem?"
    "Bom dia senhor John." - disse Manuel.
    "Bom dia John, tudo bem?" - cumprimentou Débora.
    "Manuel, a Catarina tratou-se bem? Dei-lhe indicações para tal. Espero que tenha estado de acordo com os teus gostos." - foi dizendo enquanto dava uma suave palmada na perna esquerda do Manuel, que ainda se encontrava sentado num dos sofás da área de lazer.
    "Sim, claro! É muito simpática e prestável." - adiantou Manuel.
    "Se é prestável." - disse o inglês piscando o olho a Débora, ao que esta respondeu;
    "Não olhes para mim John, eu não estive lá." - soltando um sorriso adiantou - "O Casanova é que desfrutou."
    "Senhor John..." - disse Manuel.
    "Yes?" - respondeu o britânico a Manuel.
    "Pode adiantar-me a razão de eu estar no seu fantástico iate?" - questionou o brasileiro.
    "Well, my friend!..." - foi adiantando o inglês - "...porque és amigo da Débora, porque és meu convidado e porque vais participar numa importante reunião que aqui vai acontecer." - disse.
    "E posso saber o assunto da reunião?" - questionou.
    "Claro que sim." - respondeu - "A Débora ainda não lhe adiantou o tema da reunião?" - questionou-o, olhando-o nos olhos em busca de uma reação.
    "Será que ouviu a nossa conversa de à pouco?" - pensou Manuel - "Será que tem aqui algum micro? Se responder que sim, posso colocar a Débora em maus lençóis, mas se negar que já tenho a informação, posso ser confrontado com a realidade." - optou por arriscar - "Pois, parece que não. Disse-me apenas que ia participar numa reunião e que seria o senhor a indicar-me o assunto." - informou.
    "Pois muito bem..." - disse olhando de soslaio para a Débora, como se lhe dissesse que sabia perfeitamente o que ela tinha adiantado - Fazemos assim..." - continuou - "...o amigo Manuel termina tranquilamente o seu pequeno-almoço, aproveita o sol e os 28 º que se fazem sentir e a companhia da bela Débora. Depois, vamos reunir os dois no meu escritório e eu adianto-lhe o assunto e alguns pormenores antes de reunirmos todos. Que lhe parece?" - questionou John.
    "Hum! - disse Manuel, olhando para o inglês e para a angolana.


Foto: Liyster

Sem comentários: