quinta-feira, março 26, 2020

Ensaio sobre o amor - 5


ANTÓNIO CEBOLA


- O meu filho! O meu filho! O meu querido filho! – pensei, ao escutar os primeiros choros do recém-nascido – Será menino ou menina? – indaguei-me.
- Parabéns! – congratulou-me Emília com um grandioso sorriso no rosto – Tem ali um belo rapaz.
- Um menino? – uma manifestação de enorme felicidade anunciou-se-me no rosto – Um filho macho! – murmurei.

Entro no espaço onde a Manuela se encontrava com o pequeno bebé. Sinto uma enorme felicidade a invadir-me o corpo. As pernas tremem-me, o bater do coração aumenta, numa batida desmesurada que me faz faltar o ar. Tento controlar as minhas emoções, quando na verdade não desejo fazê-lo. Apetece-me chorar e sair para a rua a gritar.
Que mal tem chorar? Afinal, um homem também chora. E esta lágrima que sinto deslizar-me pela cara é de contentamento.
Não a tento ou quero disfarçar. Afinal, esta emoção que me invade é a de ser pai pela primeira vez, sentir que se tem mais responsabilidade, que há um novo ser que necessita de nós, da nossa energia, que espera de nós uma atenção incondicional na sua educação e crescimento.
Ali estão eles; a minha querida Manuela, o amor da minha vida,  e o meu pequenino. Ele é tão pequenino. – sorri enquanto as lágrimas me tombam em bica.

Emília, por trás de mim, coloca-me as mãos sobre os ombros e incentiva-me a chegar-me à minha mulher e filho.
- Vamos António, dê um beijinho ao pequenito, para que ele o sinta.

Sinto as pernas a tremer mais ainda e as mãos a transpirar. Passo-as pela roupa para as enxugar.

- Homem, o teu filho sai a ti, choramingas! – comenta Manuela numa voz enfraquecida.
- É de alegria, mulher, é de alegria!

Da algibeira retiro um lenço, lavado e por utilizar. Abro-o e limpo os olhos, a testa e as mãos.
Ajoelho-me.

- Obrigado, meu Deus, pela dádiva deste filho. A ti entrego toda a sua felicidade e eu me torno teu servo para proteger e educar esta criatura indefesa. – murmurei, rezando um Pai-Nosso, finalizando com o sinal da cruz no peito.

Que suave é a pele da mão do meu menino.


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